Desafios de uma mãe vivendo no exterior: entre a saudade e o autoconhecimento

Morar fora do país é um sonho comum para muitas pessoas. A busca por uma vida melhor, pela oportunidade de estudar, aprender uma nova língua, conhecer novas culturas e ter acesso a outras possibilidades profissionais são apenas alguns dos motivos que nos impulsionam a dar esse grande passo. A ideia de deixar para trás a vida que conhecemos e começar uma nova história em outro lugar é, sem dúvida, excitante. O simples fato de imaginar essa nova realidade nos faz vibrar, nos dá esperança e nos enche de expectativas.

Mas, quando esse sonho se concretiza, a realidade, na sua intensidade, nos ensina que nem tudo é tão simples quanto parece. O que parecia ser uma transição suave logo revela-se uma experiência repleta de desafios. O clima, por exemplo, que pode ser uma barreira emocional imensa, toma conta de cada pedaço da rotina. Adaptar-se ao frio intenso ou ao calor desconhecido, sentir o corpo e a mente demandando tempo para se ajustarem à mudança, tudo isso é uma das primeiras dificuldades a ser enfrentada. E, ao mesmo tempo, as diferenças culturais – que em teoria sabemos que existem – se tornam muito mais evidentes na vivência diária, de um modo que muitas vezes nos surpreende. A forma de socializar, de se comunicar, de expressar sentimentos e até de entender as entrelinhas do comportamento humano… Tudo parece ser diferente. A gente aprende, de uma maneira muitas vezes desconcertante, que o “normal” do nosso país de origem não é universal. E isso nos coloca, de uma forma ou de outra, diante de nossa própria identidade e de um novo processo de adaptação.

À medida que as semanas e os meses passam, a sensação de estar “fora de lugar” muitas vezes aparece. A saudade, que é algo quase impossível de controlar, nos surpreende nas horas mais inesperadas. Embora a tecnologia hoje nos permita estar conectados com os nossos entes queridos em tempo real, nada disso substitui a presença física. O abraço apertado, o olhar cúmplice, o simples prazer de compartilhar um café ou um jantar com alguém querido… tudo isso se torna ainda mais precioso quando está distante.

E então, surge uma constatação inevitável: a saudade não é só dos lugares que deixamos, mas de toda uma vida que parecia simples, mas que, ao se distanciar, se revela profundamente significativa. Aquele caminho que íamos todos os dias para o trabalho, o cheiro da comida caseira, o pão fresquinho na padaria da esquina, o arroz com feijão que nunca deixava de ser reconfortante… Tudo isso, que antes parecia banal, se torna algo raro e profundamente desejado. E, claro, as pessoas queridas: pais, avós, amigos que estão do outro lado do mundo. O desejo de poder abraçar novamente aqueles que amamos e sentir a nossa casa no corpo é algo que não podemos explicar completamente, mas que dói.

Agora, imaginem que, nesse cenário de saudade e adaptação, a maternidade entra na equação. Tornar-se mãe no exterior é uma experiência ainda mais intensa. Por mais que o companheiro seja parceiro, por mais que haja empatia e apoio, a verdade é que, de alguma forma, nos sentimos sozinhas. A falta da rede de apoio – aquelas mães, tias, avós e amigas que costumavam estar por perto, para nos oferecer conselhos, apoio e, acima de tudo, aquele colo nos momentos de exaustão – se torna uma realidade intransponível.

A experiência do parto, a recuperação física, os primeiros dias e semanas com um bebê nos braços, são, por si só, um turbilhão de emoções: a dor, a felicidade, a insegurança, a certeza de que nada é como imaginamos. E em meio a essa montanha-russa emocional, vem a amamentação – um processo natural, mas que, para muitas de nós, é repleto de desafios que jamais imaginamos. Não sabia que o leite poderia empedrar e causar dor, que a adaptação da criança ao seio poderia ser tão difícil. Não sabia que o simples ato de alimentar meu filho me faria questionar tantas coisas, que me faria sentir tantas emoções à flor da pele. Sem o apoio imediato de familiares por perto, esses momentos, muitas vezes, se tornam ainda mais sobrecarregados.

Nos momentos mais difíceis, é quando sentimos mais a ausência de quem amamos. É nessas horas que a nossa vulnerabilidade aparece de forma crua, e a presença da família, que normalmente não parece tão essencial, se torna fundamental para a nossa saúde mental e emocional. No entanto, a maternidade nos ensina, também, a resiliência. A cada desafio superado, a cada crise enfrentada, olhamos para trás e vemos o quanto somos mais fortes, mais capazes do que imaginávamos. O peso da dificuldade, muitas vezes, diminui com o tempo, e passamos a ver que o que parecia impossível, na verdade, foi um dos maiores aprendizados da nossa vida.

Aqueles primeiros anos de maternidade são, sem dúvida, uma das fases mais difíceis, mas também são os anos que nos moldam. E ser mãe no exterior traz uma intensidade ainda maior, pois além de toda a transformação interna, lidamos com a ausência física da nossa rede de apoio, com a distância dos nossos entes queridos, com o clima, a língua, a cultura e as diferenças que, por mais que nos preparemos, nos desafiam de maneiras inesperadas. Contudo, o processo de adaptação e superação se torna, no final, uma forma de crescimento profundo.

Hoje, quase quinze anos depois de ter tomado a decisão de morar fora e formar minha família em outro país, eu olho para trás e vejo que, apesar de todas as dificuldades, tudo valeu a pena. Sim, tenho saudade do meu país de origem, da minha família, dos amigos que deixei para trás. Tenho saudade do clima tropical, das pequenas coisas cotidianas que me eram tão familiares e confortáveis. Mas, acima de tudo, a maternidade me mostrou que a vida é, de fato, mais colorida do que imaginava. Ela me impulsionou a me conhecer de verdade, a enfrentar minhas próprias inseguranças e a descobrir forças que eu nem sabia que tinha. Hoje, sinto-me muito mais conectada com o lugar onde vivo. Meus filhos nasceram aqui, e o país que parecia estranho e distante, agora faz parte da minha história e da nossa identidade. Aprendi a construir minha vida aqui, com as minhas próprias mãos, misturando as raízes do meu país com as novas experiências, e me sinto, finalmente, em casa.

Morar no exterior, ser mãe e navegar pelas diferenças culturais nos desafia, mas também nos transforma. A saudade e as dificuldades são reais, mas o processo de adaptação, de autoconhecimento, e de aprendizado constante também é extremamente enriquecedor. A jornada nunca é fácil, mas é nela que encontramos nossa verdadeira força.

E quanto a você? Como você lida com os desafios de estar longe do país de origem enquanto busca seu autoconhecimento e adaptação em uma cultura diferente?

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